segunda-feira, 16 de julho de 2007

A Torre Barroca

Normalmente não sou muito o tipo de pessoa que liga aos seus sonhos. Quando os tenho costumo acha-los divertidos ou interessantes mas não gosto muito de aborrecer as outras pessoas com eles, o meu subconsciente é meu e a mais ninguém interessa. Mas hoje, excepcionalmente, tive um que me prendeu a atenção mais que o habitual, talvez por ser tão vívido e estranho. Era um daqueles sonhos em que nós assistimos a uma cena, mas não somos parte dela. Passava-se dentro de uma enorme torre, onde todas as superfícies estavam cobertas com uma talha dourada, extremamente elaborada, tipo barroca. Numa plataforma móvel, vários metros acima do chão (que quase não se via, lá ao fundo) estava uma rapariga jovem, mais ou menos com vinte e poucos anos, vestida de verde. Eu sabia que estava a ver uma cena que se passava depois de uma história importante. A rapariga na plataforma era uma princesa (ou algo que o valha) que tinha sido, numa ocasião anterior, salva de um destino horrivel, a muito custo.

Nesse momento, surgiu outra rapariga, muito parecida com a primeira, num varandim ligeiramente mais elevado. Tinha sido ela quem raptara a princesa e a levara para ali. Queria vingar-se. No entanto, a princesa não fazia a mínima ideia de quem a sua raptora era, nunca a tinha visto mais gorda. Então, a Senhora da Torre (chamo-a assim para a distinguir) contou a sua história, aquela que não era conhecida de ninguém, aquela que não era uma lenda. Ela vinha de uma linhagem tão importante como a da princesa, tinham ambas a mesma idade, a mesma beleza e o mesmo mérito. Não havia um ponto que as distinguisse. Excepto o acaso. Enquanto a princesa estava a ser resgatada em glória, a Senhora da Torre, toda a sua família e tudo o que tinha, foram “danos colaterais” na violenta guerra que se travou para a salvar, sem nada ter a haver com o assunto. Não havia qualquer registo da sua história porque nela não havia um “final feliz”.

Aqui acordei, felizmente, porque instintivamente sabia que o que a Senhora da Torre queria fazer á princesa não iria ser muito bonito de se ver (provavelmente ia envolver torturas, ferros quentes, e bastantes gritos).

Não sei o que me levou a ter este sonho tão estranho, mas sei que me deixou impressões bastante duradouras. As personagens entranharam-se na minha mente (ou, se calhar, já lá estavam antes, por isso é que as conhecia tão bem) e não sabia o que pensar. Se por um lado as acções vingativas da Senhora da Torre são indefensáveis, por outro compreende-se bastante bem a sua revolta. Claro que a princesa não era, realmente, culpada de nada. Mas a questão mantinha-se, afinal, quem era culpado? Porquê que duas pessoas tão iguais acabaram de formas tão diferentes? E, o mais assustador, é saber que isso pode muito bem acontecer na vida real. Nós, infelizmente, não estamos no controlo. Se calhar nada está. Ás vezes parece que tudo que nos acontece é apenas “porque calha”, sem nada nem ninguém ter em conta quem somos, ou o que merecemos. Isto lembra-me as palavras da Morte, no livro “Reaper Man” de Terry Pratchett, quando falava sobre o Universo: “Não existe justiça, apenas existimos nós.” Muitas vezes temo que isto seja realmente verdade...

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